
Fosse este humilde escriba virtual gente de pouca fé, desconfiaria que "Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus" - anda meio atravessado com aquelas que têm asas. Desde um certo agosto tenebroso, são muitas as aflições a cruzar-lhes passarelas, quebrar-lhes saltos, borrar-lhes o rímel.
Uma hora The Beauty, noutra The Baby, mais acolá The Goddess. Nenhuma escapou de desditas, solavancos, abalos. E é quando se pára para enxergar de perto as razões das lamúrias que se dá a revelação da pequena epifania (para citar o mestre Caio, autor das aspas acima) e subverte-se a linha de pensamento.
Explico. É que quando era The Beauty a comer o croissant que Lagerfeld amassou, The Baby foi apoio de primeira hora e não deixou que ela descesse do salto agulha e abandonasse de vez as passarelas internacionais. Mais tarde, The Goddess chegou e não saiu de perto, zelando por cada ensaio de volta ao catwalk.
Quando The Goddess sofria mais que estagiária incompetente e mal vestida nas mãos de Anna Wintour, The Beauty e The Baby não piscaram nem com o flash mais forte, acorreram à sua companhia e recusaram a capa da Vogue America e da Elle France caso alguma do trio tivesse que ficar de fora (mesmo que às vezes chegassem a esperar madrugada adentro por um encontro marcado por ela e não efetivado).
Nos momentos em que The Baby esmorece e fica mais triste que candidata a America´s Next Top Model ao ser eliminada do programa por Tyra Banks, The Beauty e The Goddess cancelam entrevistas no David Letterman, suspendem prova de roupas para o desfile/despedida de Valentino e empenham seus cílios postiços e delineadores franceses a arrancar um sorriso da amiga.
É esta a epifania - "miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia a dia", nas palavras de Caio mais uma vez. As que têm asas se têm e isso faz toda a diferença em momentos de montanha-russa sentimental como estes. Até porque montanha-russa é assustador e divertido, mas sozinho não tem a menor graça.
Strike a pose!
"Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos" (de Moraes)
15 de fevereiro de 2008 às 07:19