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Sobre Cristais e Encantos

quarta-feira, 24 de setembro de 2008



Às vezes,
encantos se quebram. Sem nenhuma razão aparente, motivação nem fim. Apenas se quebram, como se predestinados a. Nessa hora nada pode impedi-los de cumprir sua sina. Que não chega a ser maldita, apenas é. E como tal deve ser levada a cabo.

Quebraram-se, pronto. E, qual cristal, não adianta tentar remendá-los. Uma vez despedaçados, nunca mais recuperados. Porque muito de sua graça, na verdade, consistia no mistério de sua unidade intocada. Quer aceitemos isso ou não (eles pouco se importam com nossas vontades).

Raramente nos damos conta do fato de imediato. Demoram uns tempos. O incômodo disfarçado nos rodeando, espreitando qualquer passo em falso, uma nesga de oportunidade para dizer a que veio. Mas o encontro com os cacos dos encantos quebrados sempre se dá. Irremediável.

O que fazer a partir desse momento é que são elas. E que ninguém ouse perguntar a esse humilde escriba virtual uma resposta. Corre o sério risco de fazer cumprir a sina de algum encanto ainda intocado.

Mal Necessário

segunda-feira, 8 de setembro de 2008



Por vezes,
muitas, a coisa está tão na nossa cara que a gente não se apercebe. Este fim de semana deu-se isso comigo. Ainda na ressaca de não ter conseguido comprar os ingressos para o show de Madonna no Brasil (Rio ou Sampa, whatever), pensava no quão trangressora e importante a moça era para o mundo, para várias mudanças de comportamento que passamos nas últimas duas décadas, para visibilidade da causa gay, para a sexualidade em tempos de tanto caretismo, para sua capacidade de se reiventar eternamente, etc etc etc.

Mais. Do quanto pretendo chegar aos 50´s com sua boa forma, elasticidade e senso de juventude. Enfim, de como ela é verdadeiramente foda e fundamental para se entender esses tempos em que vivemos.

Qual o quê? Como sempre o tal do destino zombra da minha cara, samba na minha carcaça. Panoramicante. Meio que por acaso, e sem fazer grandes esforços, fui assistir ao mais novo show de Ney Matogrosso, Inclassificáveis, último sábado. E lá, qual epifania, deu-se o óbvio. Que Madonna que nada, rapaz! Trangressor mesmo e fundamental é esse homem, que, aos 67 anos (eu disse 67 anos, quase a idade do pai desse humilde escriba virtual), rebola no palco com a graça, a vitalidade e o corpão que muitos garotões de 20 e poucos nem sonham em ter.

E, história por história, foi ele quem requebrou (literalmente) em pleno regime militar, desafiando os limites do que era masculino e o que era feminino, mostrando o quanto essas convenções eram (e são) frágeis. Transbordando lascívia no palco. Insinuando, se insinuando, fazendo a platéia desejá-lo e demonstrando desejo pela platéia.

Platéia, por sinal, múltipla, diversa. Senhoras muitas, muitos casais de rapazes, casais de moças, sem preocupação de demonstrar seus afetos publicamente. Território longe de guetos - tradicionais ou não. Quer algo mais libertário que um show desses?

Hoje, há pouco, conversei com ele. E não é que o filho da puta conseguiu se superar e me surpreender mais uma vez?!Além de estar espetaculosamente lindo e sedutor na entrevista, a certa hora, me olhou dos olhos, e me tirou de tempo.

Havia perguntado se ele acreditava em relacionamentos monogâmicos duradouros (um assunto que bombou entre nós nos últimos dias). Ele olhou para mim sério e respondeu: "Sim, eu acredito". Parou e manteve o olhar nos meus olhos por cerca de 15, 20 segundos. Em seguida, sorriu de esguelha e completou, mantendo o olhar (safado) no meu: "Só não consigo ter". E sorriu.

Filho da puta! Aí eu pergunto: alguém aí ainda precisa de Madonna?




Mal Necessário
(Composição: Mauro Kwitko)

Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher
Sou as mesas e as cadeiras desse cabaré
Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo
Sou a febre que lhe queima mas você não deixa
Sou a sua voz que grita mas você não aceita
O ouvido que lhe escuta quando as vozes se ocultam
Nos bares, nas camas, nos lares, na lama.

Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo
O que sempre esteve vivo, mas nem sempre atento
O que nunca lhe fez falta, o que lhe atormenta e mata
Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
O que não tem duas partes, na verdade existe
Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem
Nos bares, na lama, nos lares, na cama.